1. Todos os prognósticos catastróficos em relação ao desempenho eleitoral do PT se demonstraram equivocados. Nossa bancada no Congresso se manteve, assim como os votos na legenda petista. Na eleição de 2002, o presidente Lula encerrou o primeiro turno com 39,5 milhões de votos. Neste ano ele fez quase 47 milhões de votos. A diferença para o segundo colocado foi de 6.693.998 votos.
2. Em 2002, o PT encerrou o pleito governando estados com uma população total de 5,5 milhões. Agora, chega a quase 20 milhões. Apesar do desejo de certo senador e presidente de um dos partidos da oposição, nossa “raça” não só não desapareceu, como mostrou sua força e empenho para a construção da democracia brasileira. Os erros – voluntários ou não - cometidos por indivíduos ou grupos do PT não dissolveram a utopia socialista e democrática que está na base da nossa história.
3. Passamos a primeira semana deste segundo turno com êxitos políticos na formulação de estratégias e alianças. Além disso, os apoios recebidos pelo candidato de oposição fizeram cair a máscara do projeto político que sua candidatura representa. Dentre todos, o apoio que melhor caracteriza o compromisso “ético” da coligação tucano-pefelista é o do casal Garotinho, no Rio de Janeiro. Os Garotinho representam hoje, depois da falência do carlismo na Bahia, a face mais clara da relação patriarcal e populista na cena política brasileira.
4. Dentre tantos elementos que unem tucanos-pefelistas- garotistas contra o governo Lula, está, na realidade, a ojeriza ao combate à corrupção sistêmica, como vem sendo feito pela Polícia Federal, pela Controladoria Geral da União e pelo Procurador Geral da República. A este, não cabe mais o codinome de “engavetador geral”, como ocorreu em tempos anteriores.
5. O debate deve ser feito com muita firmeza, para que a população não seja ludibriada por quem procura causar confusão entre o desmantelamento de grupos criminosos - feito no Governo Lula - com o surgimento destes grupos - ocorrido no Governo anterior. É o caso dos sanguessugas, dos vampiros e tantos outros. Cortar na própria carne é uma conseqüência desta disposição republicana. Dizer que alguns de nós erraram não é concordar que a aliança tucano-pefelista- garotista detenha qualquer superioridade moral.
6. O segundo turno será mais um momento de afirmação da democracia brasileira, pois agora ficará muito mais claro para a sociedade o projeto representado pelas candidaturas Lula e Alckmin. Um olhar mais atento percebe a coerência entre o projeto aplicado pelo ex-governador em São Paulo e pelo ex-presidente Fernando Henrique no Brasil. Veja apenas algumas comparações no quadro ao final do texto.
7. Em síntese, os projetos são antagônicos pelos seus fins:
- O projeto do Presidente Lula realiza a redução das desigualdades, crescimento econômico, soberania, protagonismo internacional e fortes políticas sociais como as de educação, salário mínimo e Bolsa-Família. Este projeto está conduzindo o país para um novo patamar de desenvolvimento sócio-econômico, com integração social e crescimento sustentável.
- O projeto da coligação PSDB-PFL aponta na direção dos interesses da desestruturaçã o do Estado, da subserviência internacional e da concentração de renda e de privilégios, projeto em que as políticas sociais são secundarizadas. O resultado deste projeto já foi testemunhado pelo país no governo anterior.
8. O PT começou a demonstrar firmeza, para uma futura reconstrução de sua cultura política, ao tomar a decisão de afastar imediatamente os filiados envolvidos em possíveis ações ilegais. Não se trata de uma inculpação prévia, mas de um ato de soberania política. O PT não é uma delegacia de polícia ou um órgão do sistema judiciário para realizar julgamentos penais, mas deve realizar juízos políticos de certos procedimentos, que são rejeitados por nós.
9. Tivemos vitórias importantes com Welington, Marcelo Deda, Binho Marques. Mas peincipalmente a vitória de Jacques Wagner na Bahia demonstrou que o poder de contaminação e bloqueio de setores da mídia teve limites. O cercamento incessante da maioria dos meios de comunicação contra o presidente Lula, cujo ápice ocorreu nos últimos quatro dias do primeiro turno, não cessará. Duas manchetes dos jornais do dia 6 último são exemplos da desinformação programada: “Para abafar dossiê, Lula quer saída de Berzoini”, diz O Estado de São Paulo; “Aliados de Garotinho aderem a Lula; Alckmin vai a ACM”, estampa a manchete principal de O Globo. [grifos nossos]
10. Percebe-se que nossa base militante volta com energia em todo o país. Setores que se afastaram do PT nos últimos tempos e os mais expressivos movimentos sociais estão declarando seu apoio à reeleição do presidente Lula. A tarefa, agora, é ampliar nossa diferença nos 16 estados em que obtivemos vitória e diminuir a margem nos demais estados. É significativo que grande parcela dos votos das candidaturas de Heloísa Helena e Cristóvam representam parcelas progressistas da sociedade brasileira, muitas delas com identidade de esquerda ou centro-esquerda.
11. É hora de intensa mobilização pública e de enfrentamento político da questão ética, que os nossos adversários têm conseguido, até agora, escamotear. Há uma sucessão infindável de denúncias, que misturam verdades, meias-verdades e inverdades, mas que, no fundo, pretendem esconder o mar de corrupção existente no país que herdamos. (Tarso Genro)
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