Agência Brasil de Fato: Na América Latina, nós percebemos que após o vendaval do neoliberalismo dos anos 90, novos ventos políticos sopram no continente. Como o sr. interpreta essa "nova" América Latina politicamente?
Fernando Lugo: Nós vemos com bons olhos o fato de que não exista um determinado fundamentalismo de esquerda que caracterizou a década de 60 e 70. Eu creio que existe uma esquerda mais inteligente, uma esquerda que não acredita em mudanças radicais, senão nos processos de mudança gradual e creio que é isso que está acontecendo nos países. Por mais que alguns movimentos sociais tenham as suas críticas, eu acredito que as mudanças na América Latina estão acontecendo, como no governo de Tabaré Vázquez, com Lula no Brasil, Evo na Bolívia... Governos que avançam em mudanças. Mudanças que caminham na perspectiva das grandes maiorias.
Agência Brasil de Fato:Muitos consideram o movimento indígena latino-americano o novo protagonista de mudanças significativas na região, muito mais que o movimento operário.
Fernando Lugo: O movimento operário, o movimento dos trabalhadores, pelo menos no Paraguai foi cooptado pelo sistema e está muito debilitado. As centrais sindicais que já foram determinantes hoje já não o são. Sem dúvida, o elemento étnico protagonista é o movimento indígena, sobretudo nos países andinos.
Agência Brasil de Fato:Qual é a sua impressão sobre o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)?
Fernando Lugo: Creio que o movimento zapatista é um movimento histórico, "embandeirado" em Zapata, grande revolucionário da Reforma Agrária no México. O zapatismo assume um protagonismo político no México, especialmente em 1994, naquele 1º de janeiro em San Cristobal de Las Casas para se fazer perceber no mundo que é uma região marginalizada historicamente. O que é lamentável são as forças repressivas que agem de forma muito dura contra os zapatistas. Mas eu creio que o movimento revolucionário armado... não sei se tem futuro hoje na América Latina. Eu creio que os elementos de paz hoje são mais fortes para as mudanças. Creio que cada um tem a sua lógica, as suas razões, os seus argumentos para realizarem as suas lutas, mas avaliou que, na América Latina, hoje, movimentos revolucionários não têm futuro.
Agência Brasil de Fato:E o MST?
Fernando Lugo: No Brasil, penso que o MST é um movimento que acolhe as bandeiras dos excluídos. Em toda a América Latina não é possível falar em mudanças sem ter em conta a reforma agrária, o problema escandaloso da concentração de terras, como no Paraguai, por exemplo. Eu penso que o movimento sem-terra coloca em debate não apenas elementos reivindicativos, mas sim propostas por mudanças reais e creio que isso é muito positivo.
Entrevista na íntegra na ABF.
2 comentários:
Viva o Paraguai.
!! @v@nte !!
nelson:
desculpe,mas ainda não te vi no
http://romerioromulo.wordpress.com
um abraço.
romério
Postar um comentário